segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O retrato de uma inocência roubada

Por NandoMax

Com o futuro roubado, menino afirma como foi obrigado a deixar a segurança de sua casa e ir morar na rua, onde conheceu as drogas e teve que se prostituir para viver.

Ramon (nome fictício) mora nas ruas de Belo Horizonte há dois anos. Por recusar a manter relações sexuais com o seu padrasto, foi expulso de casa e obrigado a se prostituir — “Minha mãe não acreditou em mim e eu vim para a rua”, explicou. Na rua, fez algumas amizades, mas apanhou muito de outros meninos que eram mais fortes. Em meio aos programas e as drogas, conta o que teve de fazer para se manter vivo.
Apesar de aparentar ter menos de 14 anos, quando perguntado, afirmou ter 17 anos. Com a frieza de quem sofreu em tão pouco tempo o equivalente para uma vida inteira, conta a sua história. Com um mentor mais velho aprendeu a ganhar a vida se prostituindo. “Ele levou eu e outro rapaz” — este rapaz conhecido como Lourival — “para um galpão abandonado e mandou que fizéssemos sexo com um homem”, contou. Após ter cobrado dez reais do homem, Ramon só recebeu dois reais. Uma contabilidade que os que vivem na rua conhecem muito bem. Os mais fortes exploram os mais fracos.

Não Foi Fácil

O adolescente diz que toda vez que sai com um homem mais velho se lembra do padrasto. “Ainda mais quando o cliente insiste em não pagar o combinado”, por ter um corpo franzino, “ele me paga com chutes e pontapés”, contou calmamente. Em algumas oportunidades, ele consegue revidar o ataque com pedras. Relembrando uma ocasião, Ramon diz ter acertado a cabeça de um homem que não quis pagar pelo programa — “sangrou muito”, disse.
Para escapar daqueles que não pagam o programa e ainda o agridem, Ramon prefere fazer ponto na região do Mercado Central. Nesta região, os clientes são mais velhos e por isso, menos beligerantes. A maioria de seus clientes tem carro. Se o cliente não tem carro, eles procuram um ambiente debaixo do viaduto que fica na Avenida do Contorno, perto do Shopping Tupinambás.

A Cumplicidade

Logo no início da reportagem, como condição para a entrevista ser realizada, Ramon chamou um rapaz que estava à distancia observando tudo. O nome do colega é Lourival. Loirinho e com o olhar que entregaria uma curiosidade inerente a toda criança, disse ter 17 anos, mesmo sendo menor que Ramon. Lourival reforçava o depoimento de Ramon com algumas intervenções.

Quando perguntado sobre o uso de drogas, Lourival nega. Entretanto, depois de alguma insistência, confirmou que ambos fumavam crack por ser mais barato. “Maconha é caro”, contou Lourival. Em dias frios, o rapaz disse que é melhor consumir cachaça – “Dá tonteira, mas esquenta a gente”, explicou. Enquanto respondia, os dois retiravam suas mochilas e mostravam o seu conteúdo: desodorante em aerossol, cuecas e camisetas, pacotes de biscoitos e um maço de cigarro. “o desodorante é para não espantar o cliente. Tem dia que não dá para tomar banho”, confidenciou.

E o futuro...

Os dois adolescentes afirmaram não usar nenhum preservativo. Com pouco conhecimento acerca da importância do uso da camisinha, ambos usaram como desculpa o alto custo do preservativo. “Custa caro, além do mais, é obrigação do cliente”, explicaram. Apesar da pouca idade, as conseqüências de suas vidas começaram a aparecer. Ambos trazem pequenas manchas pretas em suas pernas. Sintomas de que estes garotos podem estar contaminados com o vírus HIV. Tais manchas são conhecidas como Sarcoma de Kaposi, uma espécie de câncer que surge quando a AIDS se manifesta.
Após a entrevista, como exigência que Ramon impôs, ambos receberam um prato de espaguete e dez reais. Felizes por ter ganhado, em tão pouco tempo, mais do que ganharia em um programa, responderam num tom de cumplicidade o que iriam fazer com o dinheiro: “A gente vai brincar no fliperama”. Uma resposta que, pela primeira vez, desde o início da entrevista, mostrou duas crianças agindo como crianças.

4 comentários:

Unknown disse...

Infelizmente esse é o mundo que criei como homem.... sinto-me culpado como ser social que sou... criei esse mundo!

Unknown disse...

Gostaria de saber Fernando se foi você o entrevistador... Foi?

Fernando Maximiano disse...

A matéria é minha, mas a entrevista não foi eu a quem fez.

suelen breve casada disse...

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